quarta-feira, 21 de março de 2012

Última noite do Grito Rock Jequié: Eskimo


A última noite do Grito Rock ocorrerá na Praça Ruy Barbosa, dia 23, a partir das 18h, com Eskimo (RJ), Escola Pública (Cachoeira), os jequieenses Neubera Kundera e Mc Tony. Hoje serão apresentados Eskimo, e logo mais, Neubera Kundera:



Em 2006, Patrick Laplan lançou um EP independente com sua banda Eskimo. Na ocasião, fiz um comentário empolgado no saudoso site NoMínimo. O mundo, quer dizer, o Brasil parecia o limite para o que se ouvia no disco, chamado justa e singelamente Eskimo EP: boas letras em português, melodias cativantes e um instrumental de gente grande. E então, como acontece com frequência, nada aconteceu.

Laplan continuou tocando o sonho da banda própria, como tocara e tocaria também com nomes como Los Hermanos, Biquíni Cavadão, Marcelo Yuka, Blitz, MV Bill, Rodox e Tom Bloch, nomes que lhe engrandecem o currículo de baixista. Só que Laplan nunca foi “apenas” um baixista típico, sossegado no seu canto: sempre foi um multi-instrumentista, capaz de brincar também na guitarra, na bateria e nos teclados.

E agora, depois de cinco anos quase, Laplan afinal volta a pôr o Eskimo para fora do iglu, dessa vez com um álbum inteiro, Felicidade Interna Bruta, de 16 faixas e mais de 70 minutos de duração. O que na mão de muita gente poderia se encaminhar para o tédio – afinal, quem, a não ser profissionais do ramo, consegue escutar 70 minutos seguidos hoje? – na mão do Eskimo se torna uma caixinha de surpresas, com incursões doom metal (O grande crime, uma das quatro faixas que já diziam presente, em versões diferentes, no Eskimo EP), tango (A las mujeres les queda mal torear), fusion (Dama de honra) e sambinha (Harbolita) adentro, para ficar apenas em alguns gêneros díspares. Porque, na verdade, uma faixa costuma passear por vários deles.

É como se Felicidade Interna Bruta já fosse uma antologia de singles, burilados com a calma imposta pelas dificuldades de se ser músico independente no Brasil. Cinco anos é um bocado de tempo para pensar e repensar não só na música como na vida. O CD felizmente se beneficia disso. Laplan e o novo vocalista do Eskimo, Cauê Nardi (que substituiu Henrique Zumpichiatti, o titular em Eskimo EP), únicos nomes comuns disco afora, foram arrebanhando participações especiais de gente que, de alguma forma, tem a ver com a história do grupo, como o “doutor” Miguel Flores da Cunha (tecladista do Biquíni) ou Pedro Verissimo (cantor do Tom Bloch).

Também estão ali ecos de outras bandas, como Los Hermanos – afinal, Laplan foi membro efetivo da banda nos seus primórdios (ou alguém aí achava que eles nunca tiveram baixista?!), saindo por divergências musicais – e Legião Urbana. Embora a voz de Cauê aponte numa direção completamente diferente, há um quê do aguçado senso dramático de Renato Russo em À deriva, por exemplo. Esta faixa é, ainda, um exemplo das boas letras de Laplan: “Dizem recordar sempre/ Pra não reviver o indesejado/ Mas quem há de viver bem/ Vivendo com cuidado?” Cavalo de fogo passeia no mesmo campo temático, o das relações amorosas, mas o tom é bem diferente, irônico, com um grande achado: “Eu peço ‘altos’ pra quem só mal me quer./ Se eu percebi que a hora é boa pra dizer adeus./ Eu peço ‘altos’ pra quem só mal me quis./ Eu desço nesse ponto. Guarde o troco para o fim./ Eu só te quero bem... Bem longe”.

Porém, talvez mais importante que tudo isso, currículo, destreza instrumental, capacidade de compor e versejar, seja o fato de que o Eskimo sobreviveu a um longo inverno. E sobreviveu sem precisar vender suas convicções, sem precisar comercializar sua música. Não faz música para qualquer um, não, faz música para os bons.


Eskimo - "Bipolar"




Para ouvir as músicas: http://www.eskimosounds.com/

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